Substance - Joy Division
Embora tivesse surgido no ano de 1977 em meio à revolução punk, o Joy Division já previa o que seria o futuro, o post-punk. A banda de Manchester já contava com uma bateria mais obscura, batidas que ecoava por todos os cantos como flechas molhadas em veneno depressivo. O som era a manifestação, o espelho dos sentimentos do vocalista Ian Curtis, e esse som, mesmo em momentos mais eufóricos, soava abatido graças a um simples acorde de baixo que relutava em permanecer na melancolia. A voz de Curtis era a voz dos perdidos, os jovens perdidos, não por questões políticas ou sociais. Era um impasse existencial. Não havia sentido para a existência, e os olhos da juventude começava a assumir uma ótica niilista e esse é um dos melhores termos para definir a música do Joy Division: niilista. A banda não era apenas Curtis, o grupo tinha um aparato instrumental invejável, peças chaves como o baixista Peter Hook, o guitarrista Bernard Sumner e o baterista Stephen Morris. E se alguém poe em dúvida a competência desses músicos, basta ver a banda posterior ao Joy Division que eles formaram (preciso mesmo citar o nome?). Embora os outros integrantes não passassem pelos problemas do amigo, eles assimilaram a perturbação da figura de Curtis, e transformaram isso em canções marcantes, angustiadas.
O Substance é uma reunião do melhor que o Joy Division criou em aproximadamente 3 anos de atividade. Foi lançado 8 anos após o fim da banda e um ano após o lançamento de um disco do New Order com o mesmo nome. Contava com diversos singles e b-sides e na versão original em LP só tinha 10 faixas. A versão em CD apresentou mais 7 faixas bônus. O disco começa com 'Warsaw' que é uma versão punk da banda, com acordes rasgados e um riff simples. O ritmo é brusco e inquieto. Não perdia em nenhum quesito para as bandas que se diziam punk na época. 'Leaders of Men' já tem semblante mais pesado o que não significa que perde em vigor, com notas obscuras circulando por todo o som. É muito similar ao Gang of Four, no modo como a guitarra é tocada e no vocal aflito e altivo. Vale a pena destacar um trecho da letra, sintetiza muitas das nossas conclusões sobre os homens de poder:
The leaders of men
Born out of your frustration
The leaders of men
Just a strange infatuation
The leaders of men
Made a promise for a new life
No saviour for our sakes
To twist the internees of hate
Self induced manipulation
To crush all thoughts of mass salvation
'Digital' é uma das mais dançantes faixas do disco. Embora seja pulsante, tem uma letra que lida muito com temas depressivos. Mesmo assim, a bateria de Morris é espetacular em sua forma abafada e bem marcada. A guitarra se alterna em ataques velozes e trechos mais elaborados. O baixo tem uma sonoridade deformada e é a sombra incansável de cada batida. Curtis se exalta ao gritar repetidas vezes "fade away, fade away". 'Transmission' é incrível com o baixo introduzindo e conduzindo toda a melodia. A guitarra faz a faixa brilhar com sua participação calculada, com mini-solos ataviando a canção. Ela vai se intensificando, com uma atmosfera mais densa, pressionada por afoitos cantos de Curtis:
Dance, dance, dance, dance, dance, to the radio.
'Dead Souls' vale ser destacada pelas batidas esparsas, pela guitarra de Sumner, que mesmo encoberta pela bateria de Morris, desempenha um trabalho fundamental na construção do som. A voz de Curtis se torna mais grave e despolida, o toque que todo o arranjo da faixa necessitava. Bem, 'Love Will Tear Us Apart' é o cartão de visita da banda, a canção que ergueu a banda aos mais altos patamares do punk/post-punk. A música destacou a banda do meio punk e a tornou única. Não havia poesia tão tocante e despertante desde o Velvet Undeground. O riff é um dos mais conhecidos do rock, com sua simplicidade e toque suave, afável. A sensibilidade da banda para criar uma lenda. A letra é a tradução da face confusa que o amor às vezes assume. Expressa a situação drástica de seu casamento que estava em frangalhos. A ilusão com o amor e suas promessas. Era um Ian Curtis desiludido com aquilo que todo mundo costuma chamar de "o melhor sentimento que um ser humano pode ter":
When routine bites hard and ambitions are low
Love, love will tear us apart again
'Failures' é cáustica e arrebatadora, tal qual o som do MC5. Uma guitarra fervilhante soando como um Wayne Kramer ensandecido. O baixo vai instigando o solo frenético. É um ótimo rock.
Joy Division marcou o mundo em apenas 3 anos. Com suas polêmicas letras, com seu polêmico nome (Joy Division significa Divisão da Alegria - um setor nazista onde as judias eram oferecidas sexualmente aos soldados), com sua polêmica atitude diante da mesmisse que enlouquecia as pessoas, a banda foi apenas o início de algo que se desdobrou por mais anos com o genial New Order. Não discuta qual das duas bandas foi a melhor: os sons eram diferentes e as razões também. O Joy Division reina em meio a dias cinzas de chuva, momentos de depressão. É uma válvula de escape para a juventude. Descanse em paz, Ian Curtis.
Set List
1- Warsaw
2- Leaders of Men
3- Digital
4- Autosuggestion
5- Transmission
6- She's Lost Control
7- Incubation
8- Dead Souls
9- Atmosphere
10- Love Will Tear Us Apart
11- No Love Lost
12- Failures
13- Glass
14- From Safety to Where...?
15- Novelty
16- Komakino
17- These Days
BAIXAR O DISCO (TORRENT)
http://www.torrentreactor.net/torrents/263479/Joy-Division-Substance
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